Ok, terminou a eleição, a Dilma venceu, vida que segue. Não?
Sim.
Independente do que eu ache e gostaria, a vida segue. Se o governo vai seguir virando perigosamente à esquerda (na minha opinião) ou não, agora teremos que esperar pra ver, mas é bom sempre lembrar de algumas coisinhas:
1) Quem reelegeu a Dilma não foi o nordeste. O nordeste foi uma região onde ela teve votações expressivas, que na soma fizeram a diferença pra ela, ok. Mas sem os votos que ela teve em São Paulo, no Paraná, no Rio Grande do Sul e em TODOS os Estados do País de nada adiantaria o nordeste. Quem reelegeu a Dilma foram 51% dos eleitores do País. Aceitem isso.
2) O povo do nordeste votou na Dilma por causa do Bolsa-família, “ó, que egoísmo”. Tá.. agora vamos inverter. Vamos dizer que um governo X fizesse um plano que, por qualquer razão (neste ou em outro contexto), favorecesse o sul do País. Aí não seria egoísmo? Bem.. se é egoísmo o nordestino votar em quem lhe beneficia, seria o mesmo no caso dos sulistas. Não há nada de errado, na minha opinião, em votar por algo que te beneficia. Agora, questionar na prática COMO ocorre este tal benefício é outra história… mas aí a “culpa” não é das pessoas.
3) Democracia. O que significa mesmo? Concordar com tudo “ó que lindo”? Não. Respeitar a posição e opinião dos outros, independente se, pra ti, ela parece coerente, correta, errada ou “oscambáu”. Coisa difícil, eu sei, mas é isso. Enquanto isso não for minimamente consenso, a democracia vai ser mais a “cracia do demo” mesmo…
4) O Facebook sujo no período eleitoral. Sim, eu também sofri com isso. Gente que postava coisas sem o mínimo de senso do ridículo, defendendo o que acredita a qualquer custo, com argumentos que meu cachorro contraporia e com coisas claramente mentirosas (que eu duvido que a pessoa que postou não sabia), poluindo excessivamente (se não for redundante) a timeline de todos. Preferem o quê? A passividade dos outros anos? Eu vi e li muitas coisas com as quais concordava e não concordava. Recebi “conselhos” para apagar este ou aquele. Eu digo, até com orgulho, que não deletei ninguém da minha timeline. Não acho necessário, pois além de ninguém ter me dito nada de ofensa pessoal, apesar de política ser sim fundamental, a vida não é só política, e aceitar o contraditório faz parte. Quem me conhece sabe que eu fiz um esforço muito grande, mas muito grande, para não responder um bilhão de asneiras, do lado de cá e, claro, principalmente do lado de lá. Me decepcionei forte com uma pessoa pela incoerência, baixeza e superficialidade dos seus argumentos ofendendo quem não concordava com ele… mas tô aqui, sobrevivi e salvo alguém tenha me deletado, a vida segue na mesma…
5) “Essa foi a pior eleição da história do País, quando ódio, quanta raiva, nossa”. Como eu acabei de dizer, sim, foi difícil. Mas não acho que este caminho está errado, acho que é o caminho natural. Foi a eleição mais apertada da história, incluindo 1989 ou mesmo 1960. Bem ou mal, do primeiro governo FHC até aqui, todos sabiam quem ia ganhar. A questão, como eu sempre digo, não está na raiva, falta de argumentos, no mimimi ou seja qualquer coisa relativa às pessoas. A questão está na educação, no saber se colocar e se portar, no distanciamento, no relativismo.. que infelizmente, no Brasil, não se aprende na escola. E isto não prescinde uma disciplina de ciência ou consciência política, mas sim, uma educação estruturalmente de melhor qualidade… só que isto, infelizmente, ainda vai longe.
6) Impeachment. Do lado derrotado o devaneio pegou forte. Nem terminou direito a apuração e voaram por todos os lados pedidos de impeachment. Por que mesmo hein? Por que eu não gostei do resultado não conta. Se por acaso nos próximos quatro anos houver uma razão para isto, ok, que seja feito (ainda que eu ache que o Congresso não permitiria). Mas impeachment como sinônimo de guilhotina, pura e simplesmente “por que sim” é… inexplicável. Alguém me disse “mas por muito menos o Collor foi “impeachmado”. Ponto um: o Collor não foi “impeachmado”, ele sofreu o processo mas renunciou. Ponto dois: parem de acreditar em Papai Noel, as razões do impeachment do Collor foram unicamente políticas, da relação do executivo (ele) com o legislativo (Congresso). Nada a ver com a roubalheira ou com a defesa dos interesses do povo.
7) Separação do sul. Sim, eu vi também memes pedindo/sugerindo a separação do sul. Desculpem os que defendem essa ideia mas, brincadeiras à parte, não consigo pensar em nada mais imbecil. Primeiro que separar não é uma simplesmente coisa geográfica, mas deve levar em conta uma série de outros aspectos (econômicos, políticos, industriais (produção de alimentos, indústria de base, etc.), diplomáticos). E segundo que, mesmo separando, sempre haverá dois lados, um vencedor e um perdedor. E aí vamos seguir separando até chegarmos ao País do eu sozinho?
8) Teve sim, muita gente que foi às ruas pedir mudanças no País, caiu no conto da carochinha das promessas que foram feitas e não cumpridas pela governante na época e votou no status quo pouco mais de um ano depois. Pra mim isso até é incoerência, mas assim como eles não são obrigados a votar no PSDB por causa disso, eu não sou obrigado a votar no PT por qualquer outra razão.
9) Votar no PSDB não é imbecilidade, nem falta de espírito crítico, nem nada. Nem mesmo que eu seja um insensível aos programas sociais, às políticas públicas ou educacionais. Eu reconheço, sem problemas (diferente de muita gente, é verdade), que o País melhorou nos anos 2000. Daí a achar que estamos no melhor caminho ou que continuamos melhorando vai uma distância…
10) Parem com discursos do tipo “triste pelos 30% (aproximadamente) que votaram branco, nulo ou não votaram”. Parem. Estes 30% exerceram tanto o seu direito democrático quanto os que votaram em um ou em outro. Certo ou errado na sua visão não quer dizer certo ou errado. Lembre-se que, obrigatoriamente, para 50% dos votantes, o seu voto foi errado. Eu, inclusive, acho que o voto não deveria ser obrigatório. Ah, mas aí poucos votos não têm representatividade? Tem sim, problema de quem não votou…
11) Coxinhas e petralhas. Eu sei que o termo se generalizou nesta eleição, ou essa generalização foi escancarada. Mas eu particularmente acho infantil isso. Por que eu voto no PT eu sou povão e por que eu voto no PSDB eu sou elite? Menos maniqueísmo, seria possível? Eu posso muito bem votar no PT por entender que o que ele vem fazendo vale a pena, e no PSDB por achar que não está valendo. Eu vi gente chamando, indiretamente, filhos, irmãos, amigos, de coxinhas e petralhas, sem o mínimo senso. Pessoas que eu sei que não pensam isto dos seus próximos, mas generalizam em nome da falta de… sei lá. Para mim, petralha é o Genoíno, o Dirceu, o Paulo Cunha, o Delúbio e até o Lula. Mas não todos os que votaram “neles”. Assim como eu não sou elite, não sou coxinha e não teria vantagens em um governo do PSDB, É tão difícil aceitar isso?
12) Vale ressaltar que a choradeira não é exclusividade dos eleitores do Aécio (não necessariamente apenas tucanos). Se por acaso ele tivesse vencido (foi por pouco, e não necessariamente dependeria do nordeste), os eleitores da Dilma (não necessariamente apenas petistas) estariam raivosos como nunca, decepcionados, brigando com todo o mundo e alguns até ameaçando rumar ao Uruguai (como se fosse o Eldorado).
Enfim galera. Viva o Brasil e vida que segue. Quem ler, obrigado pela paciência, mas não se preocupe em concordar com tudo, ou mesmo com qualquer coisa. É apenas a minha opinião, o meu entendimento. Fique à vontade para concordar, discordar, ignorar ou compartilhar.
Afinal, vivemos em um país democrático.